sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os três aeroportos de Catanduva

Pouca gente sabe, mas Catanduva quase teve três aeroportos

Foto do Aeroclube em meados dos anos 80. Nota-se ainda vários pés de café atrás do aeroclube, onde hoje se encontra uma ampla avenida e várias residências (atual bairro Agudo Romão)

Um dos assuntos que mais estavam em alta lá pelos anos de 1939/1940, quando o mundo se defrontava com os ataques traiçoeiros de Hitler, era sem dúvida a aviação.
De todos os lados do planeta surgia a idéia de se incentivar ao máximo a formação de jovens aviadores. O movimento crescia, e no Brasil ela já era vista com bons olhos, uma vez que a aviação nacional tinha fins pacíficos.
Naquela época, Catanduva já despontava como um dos maiores centros de nosso Estado e tinha que acompanhar a grande evolução que o mundo passava. Era preciso que o progresso aqui continuasse a todo o vapor, abrangendo todos os setores da vida comunitária.
Foi com essa idéia de avanço e progresso, que um grupo de bons catanduvenses se reuniram no dia 20 de janeiro de 1940, no salão do Banco do Brasil (que funcionava na Praça da República, onde hoje se encontra o Banco Itaú), às 20 horas, para fundarem o Aeroclube de Catanduva.
Nessa reunião, procedeu-se a aprovação do estatuto e elegeu-se o Conselho Deliberativo, com seus respectivos suplentes. No dia seguinte, em nova reunião, foi eleita a primeira diretoria que era composta pelo Sr. Antonio Halmalo Silva, presidente; Dr. Ângulo Dias, vice-presidente; Euclides Pereira e José Floriano Martins, 1º e 2º secretário; José Cunto e Dr. Henrique Smith, 1º e 2º tesoureiros.
A idéia principal não era só a criação de uma pista de pouso local, mas sim a formação de pilotos, contribuindo para elevar cada vez mais os índices educativos e profissionalizantes da juventude catanduvense.
Logo nos seus primeiros meses, a diretoria buscou regulamentar a legislação e obter o terreno para o seu campo de aviação. Autorizado a funcionar, por ato do Aeroclube do Brasil, conseguiram os seus fundadores um grande terreno no espigão da Fazenda São José, o melhor ponto que encontrou, sendo doado pelo senhor Ricardo Lunardelli, que posteriormente recebeu o título de presidente honorário do Aeroclube de Catanduva. O campo também alcançava um pedaço do terreno da propriedade agrícola do senhor José Pedro da Motta Filho, que também lhe cedeu de bom grado a faixa necessária. Ambas as terras continham grande plantação de café.
Porém, o que muita gente não sabe é que logo no início o aeroclube não funcionava no local onde o conhecemos hoje. Em seu começo, o aeroclube funcionava numa área de declive do outro lado da rodovia Washington Luiz.
A idéia da mudança se deu por causa do tamanho do aeroporto, já que esse primeiro possuía 600x100m e era pequeno para poder receber aviões de tamanhos maiores.
Diante disso é que se deu a construção de um novo aeroporto, com dimensões maiores do que o primeiro, possuindo 1200x40m.

Foto do Brigadeiro Fontenelle (canto esquerdo) com o Sr. Antônio Stocco e Sr. Gentil de Ângelo, no dia da inauguração do novo aeroclube, em 28 de julho de 1951 

A inauguração deste novo aeroporto foi um fato muito importante para a cidade de Catanduva.
A festa de inauguração coincidiu com a abertura das novas linhas da “Real” na cidade, ligando Catanduva com uma linha direta para São Paulo e se deu em 28 de julho de 1951.
O nosso saudoso Padre Albino foi o responsável por dar a bênção, onde o evento ainda contou com a presença do Brigadeiro Henrique Dyott Fontenelle, diretor da Aeronáutica Civil e sua esposa, oficial que veio representando o Ministro da Aeronáutica; junto dele se deu a presença do Comandante Pessoa Ramos, do 1º Grupo de Caças, herói da FAB na Itália, além de inúmeras outras pessoas ilustres.
À noite, para fechar com chave de ouro a inauguração do novo aeroporto, efetivou-se um baile de gala no Clube de Tênis, o conhecido “Baile da ASA”, onde a senhorita Miraides Baldusse foi coroada como a “Rainha da ASA” de 1951.

Senhorita Miraides Baldussi, a “Rainha da ASA” de 1951, no baile de gala que aconteceu no Clube de Tênis

O asfalto

Mesmo com toda a sua infra-estrutura dentro dos padrões estabelecidos, um dos problemas enfrentados pelo aeroclube foi a pista de pouso ser de terra.
Em 1960, a pista tinha 1.420 metros de comprimento por 120 metros de largura, contando o aeroclube com dois hangares de 40x40 metros, além de uma estação aeroviária recentemente construída.
A pista vinha servindo para linhas domésticas da Vasp e da Real, quando vistoriadas para operações de linhas comerciais, homologadas para aviões de tipo C-46 e C-47. Além dessas aeronaves, a pista servia para pousos de pequenos táxis aéreos e aviões da escola de pilotagem do aeroclube local. Entretanto, nas épocas de chuva, precisavam ser suspensas todas as atividades do aeroclube, por conseqüência da pista ser de terra, que abria alguns buracos, se tornando imprópria para os pousos e decolagens.
O prefeito da época, Antônio Stocco, enviou ofício para o então presidente do Brasil na época, Juscelino Kubitschek, pedindo ajuda para o asfaltamento da pista do aeroclube, que acabou sendo realizada tempos mais tarde.
Houve ainda a construção de um terceiro hangar, inaugurado em 23 de outubro de 1977.

Novo aeroporto

Outra coisa que muita gente também desconhece foi a intenção de se construir outro aeroporto em Catanduva, esse de âmbito internacional.
A iniciativa se deu pelo então prefeito da época José Alfredo Luiz Jorge, que acabou montando uma comissão para a efetivação da construção.
Um dos problemas principais do projeto foi qual seria o terreno para a construção, já que o novo aeroporto teria 2.500 metros de extensão, apta para receber aviões de grande porte.
De acordo com jornais da época, seriam desapropriados pela prefeitura municipal 39 alqueires de terras, pertencentes à Usina Catanduva, em terreno que se encontrava nos altos do bairro São Francisco.
Porém, depois de tanta correria, o projeto acabou não saindo do papel.

Fonte de Pesquisa: Acervo do Museu “Padre Albino”

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

As primeiras leis municipais em Catanduva

Vamos conhecer um pouco sobras as primeiras leis municipais de nossa cidade

Quando falamos em legislação municipal em Catanduva, é interessante notarmos que não houve a preocupação no passado de se fazer um arquivo de todas as leis criadas em nossa cidade.
Atualmente, tanto o site da Prefeitura Municipal quanto o site da Câmara Municipal de Catanduva disponibiliza todas as leis sancionadas nos últimos anos, o que facilita as pesquisas e buscas daqueles que se interessam por determinados assuntos ou delas necessitem.
O que nós temos, apenas, sobre as primeiras leis municipais, são as transcrições delas que foram encontradas em jornais de época, já que tudo era publicado em jornal local, bem como muitas delas foram citadas por grandes colunistas e pesquisadores de nossa cidade, como o jornalista Carlos Machado, e os professores Brasil Procópio de Oliveira e Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli.
Diante disso, hoje vamos citar, a título de curiosidade, algumas das primeiras leis criadas no município de Catanduva, lá pelos anos de 1918, quando o nosso primeiro prefeito, Sr. Ernesto Ramalho, foi escolhido entre os vereadores para exercer a função do Executivo.

Primeiras Leis

Lei Nº 01, de 18 de abril de 1918, adota a Tabela de Impostos da Câmara Municipal de Rio Preto, com algumas modificações.
Lei Nº 02, de 18 de abril de 1918, adota o Regimento Interno da Câmara Municipal de Taquaritinga.
Lei Nº 03, de 18 de abril de 1918, adota para o Paço Municipal o prédio do Sr. José Chab, sito à avenida 3 (que logo teria o nome mudado para rua Alagoas).
Lei Nº 04, de 20 de abril de 1918, regula sobre a Instrução Pública, no município, com a criação de 10 escolas municipais. (Interessante percebermos que a educação foi um dos pioneiros projetos de nossa cidade).
Lei Nº 07, de 09 de maio de 1918, autorizando a desapropriação de terrenos necessários ao saneamento da cidade e abertura de ruas.
Lei Nº 08, de 10 de maio de 1918, autorizando a prefeitura a contratar o fornecimento de luz elétrica com Gataz Neme Maluf por 20 anos.
Lei Nº 10, de 03 de junho de 1918, dá nomes às ruas e praças desta cidade.
(Eram as seguintes: No antigo Distrito de Paz de Vila Adolpho, lado esquerdo do Rio São Domingos, as ruas número 1, 2, 3, 4, 5 e 6 passarão a denominar-se, respectivamente, ruas Amazonas, Pará, Brasil, Maranhão, Treze de Maio e Ceará; as avenidas 1, 2, 3, 4, 5 e 6, respectivamente, rua Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais; o antigo largo do jardim passará a denominar-se Praça da República e o largo da Igreja, Praça São Domingos. Na antiga Catanduva, lado direito do Rio São Domingos (hoje Higienópolis), as denominações passarão a ser as seguintes: as ruas paralelas à Estrada de Ferro, Rio de Janeiro, a do lado inferior, São Paulo, ao lado superior; as outras paralelas a estas, de baixo para cima, Goiás, Mato Grosso e Municipal; as transversais a começar pela rua que atualmente atravessa a Estrada de Ferro, Sete de Setembro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Rio Grande do Norte e a praça existente, Praça da Independência; na outra povoação do São Francisco, passará a denominar-se rua 15 de Novembro e as ruas paralelas: Piauí e Acre; as transversais, começando de baixo: América, São Francisco e Paraná. Subscreveram o projeto, transformando em lei, os vereadores Nestor Sampaio Bittencourt, Dr. Francisco de Araújo Pinto e Adalberto Netto).
Lei Nº 16, de 1º de julho de 1918, isentando cafeeiros do imposto do exercício de 1918.
Lei Nº 18, de 15 de julho de 1918, resolve sobre a extinção de formigueiros.
Lei Nº 21, de 16 de julho de 1918, resolve sobre matança de gado.
Lei Nº 22, de 16 de julho de 1918, dispõe sobre o funcionamento do comércio, que era nos dias úteis fechados às 20 horas e domingos e feriados às 15 horas.
Lei Nº 23, de 30 de setembro de 1918, autoriza a prefeitura a construir um prédio para o Grupo Escolar.
Lei Nº 25, de 15 de outubro de 1918, determina a extinção de gafanhotos no município.

Pontos de destaque

Dentre as leis iniciais de nossa cidade, alguns pontos devem ser levados em consideração. A Lei Nº 03, por exemplo, foi essencial para a pesquisa sobre os locais de funcionamento da Câmara Municipal de Catanduva, já que depois do prédio do Clube “Sete de Setembro”, ela passou a funcionar no referido prédio citado na lei.
A Lei Nº 07 nos dá a idéia de que desde o início a função era de fazer a nascente cidade crescer, utilizando para isso os meios que fossem necessários para urbanizar o local, já que naquela época vivia-se uma idéia de modernidade profunda, com um imaginário de grandes praças, largas avenidas e iluminação decente.
No que se refere à Lei Nº 10, que dá os nomes das ruas, avenidas e praças, percebemos grande espírito democrático e idéias liberais na nomenclatura dos elementos, pois além de usar nomes de cidades, Estados e países, algumas ruas e praças levaram nomes ligados à causa liberal e do pensamento Iluminista, como por exemplo, os termos “Independência”, “República”, “Sete de Setembro” (Dia da Independência do Brasil) e “Treze de Maio” (data da abolição dos escravos no Brasil).
Ambas as leis de Nº 18 e Nº 25 correspondiam à necessidade da época, pois já que a cidade praticamente era uma “zona rural em fase de urbanização”, era comum encontrar muitos insetos em Catanduva, daí o apoio dos órgãos competentes para a extinção desses bichos.
Outro ponto interessante de se observar é o horário de funcionamento do comércio estipulado pela Lei Nº 22, mostrando que este funcionava direto. Isso pode ser observado devido à quantidade de pessoas que moravam na zona rural, em colônias ou em pequenas propriedades, que durante a semana trabalhavam de sol a sol e tinham apenas o final de semana para vir realizar suas compras. Era uma boa oportunidade para o incipiente comércio local ir se destacando, além de poder oferecer ao consumidor um horário que era disponível para a realização das compras.

Fonte de Pesquisa: Boletim “Só 10”, Nº 55, de junho de 2010, de autoria do professor pesquisador Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"Jazz-Band Bico Doce"

O “Jazz-Band Bico Doce”, fundado em 1922, foi o primeiro conjunto dançante responsável pela animação da população em nossa cidade

Pode ser que ainda exista alguém que acredite que no início de nossa Catanduva as pessoas não dançavam e não se divertiam como nos dias de hoje. Pensaram errado. Aqui se dançava sim, e muito por sinal.
E não tinha lugar específico para dançar: dançavam em tulhas de café e cereais, encontrados em grandes quantidades na zona rural de Catanduva, além de movimentarem o corpo no ritmo da música em várias residências familiares e em algumas agremiações que já existiam na cidade.
Porém, de início, lá pelos anos de 1920, não se tinha ainda conjuntos de animações oficiais para se fazer a “movimentação” necessária para as festas. Mas isso não era problema para a população, que acabava dando um jeito na situação: principalmente aos sábados e as vésperas de feriados, os moradores locais recorriam ao uso de sanfonas e vitrolas, nunca deixando de realmente “fazerem a festa”.
Interessante é percebermos como que o avanço tecnológico e industrial andou de mãos dadas com o próprio avanço da cultura.
Catanduva nesse momento ainda tinha sua economia muito voltada para a questão agrária, com grande destaque para o café, onde a maioria da população daquela época (que contava com, aproximadamente, 16.000 habitantes) era absorvida em tais atividades.
Só que com o passar do tempo, a industrialização e as atividades urbanas foram se desenvolvendo, contando com uma grande atividade de administradores sérios, sempre preocupados com o progresso.
E esse progresso, idealizado na maioria das vezes, pela elite dominante, trazia embutido em sua essência o próprio desenvolvimento da cultura, atingindo como conseqüência o campo musical.
Partindo desse desejo cultural, Clóvis Cordeiro, filho do Cel. José de Oliveira Cordeiro, antigo morador da Praça da República (local hoje onde se encontra o Cartório do 2º Ofício), deu prosseguimento de se montar uma orquestra em Catanduva. Era um jovem totalmente culto, muito dado às artes musicais, já que era um grande pianista, entusiasta e incentivador da música. Além disso, era bancário de profissão, trabalhando na agência local do Banco Comercial do Estado, sendo também diretor do antigo Catanduva Esporte Clube, que existiu lá pelo lado do Higienópolis.
Recorrendo aos mais variados meios e fazendo muitos contatos com vários músicos, Clóvis conseguiu dar corpo à sua idéia, e no ano de 1922 estava formada a Orquestra de Catanduva.

A “Jazz-Band Catanduva” surgiu no ano de 1922. Foi o primeiro conjunto musical dançante organizado em Catanduva. Nesta foto, data o ano de 1928 e foi tirada na Sociedade Italiana de Catanduva

A orquestra era formada por excelentes músicos, que foram fixando residência em nossa cidade. Seus instrumentos eram os dos mais modernos, fruto de doações efetuadas por membros da comunidade catanduvense, num grande trabalho encabeçado por Clóvis Cordeiro.
Logo de início, essa orquestra passou a ser conhecida como “Jazz-Band Bico Doce”, título este que não foi muito do agrado da população.
O título da orquestra surgiu de uma brincadeira entre os jovens da época. Naquele tempo, os rapazes da cidade tinham o costume de se reunirem para jogar bilhar no antigo bar do Rafael Galhardi, que se localizava na Praça da República. E nessas horas de lazer, enquanto jogavam, iam bebendo pouco a pouco em um único copo, ou seja, dando a “bicadinha” como eles assim o chamavam.  E quando alguém não estava com vontade de dar a tal “bicadinha”, os companheiros sempre diziam: “Dê uma bicada, não faça bico doce, seu maricão”, que se resumia basicamente em “Sirva-se. Não faça cerimônia”. Daí a idéia brincalhona de se colocar o nome da orquestra de “Bico Doce”, que utilizava a antiga sede da Sociedade Italiana local para realizarem seus ensaios.

Foto de 1918/1919 da banda dirigida pelo maestro italiano Antonio Rutta. Percebemos um grande número de grupos musicais em nossa cidade

Pelo fim do ano de 1922, a orquestra estava cada vez mais se desenvolvendo e os músicos atuando com cada vez mais responsabilidade. Nessa época, o nome da orquestra foi modificado para apenas “Jazz-Band Catanduva”, onde a noite de estréia do novo título foi de grande sucesso, sendo realizada em plena Praça da República, com grande presença da população.
O repertório da orquestra era dos mais variados: valsa, tango, polca, foxtrote, maxixe e a mazurca eram ritmos que não podiam faltar naquela época.
O “Jazz-Band Catanduva” exerceu suas atividade de 1922 a 1929.

Foto datada de 24 de julho de 1914, da primeira banda musical de Catanduva (que naquela época ainda se chamava Vila Adolfo), denominada “24 de Julho”. Essa corporação era dirigida pelo maestro Ernesto Scorza Carvalheiro